sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

a única coisa amarga na minha vida

foram as formigas que, certa noite de verão, comi inadvertidamente


Muito gozo me dá andar por casa ou por sítios que conheço relativamente bem às escuras. Na casa da minha avó minha casa sempre, mas sempre, que podia ia para todo o lado sem acender a luz. O mesmo se passou numa quente noite de verão alentejana. Eu sabia muito bem onde estava o mil-folhas que queria comer e não vi qualquer necessidade nem utilidade em acender a luz para o ir buscar e, muito menos, vi tal necessidade quando chegou a hora de o comer. E Deus lançou a sua ira sobre mim e eu aprendi, não da melhor forma, que a gula é mesmo um pecado.

Primeira dentada no (até aquele dia) muito amado mil-folhas e fico com a boca cheia de formigas. Desagradável meus amigos, muito desagradável. Desde essa noite, de cada vez que alguém se queixa que está com um formigueiro numa perna ou num braço e que muito provavelmente está prestes a sofrer um ataque cardíaco, vem-me à memória aquela amarga noite de verão.

Mas, apesar de tudo, não guardo qualquer rancor aos minúsculos bichos. Se bem que os que eu comi devem ter tido um final de vida nada agradável: "Mal do bicho que passa pela goela de outro!" diria agora a avó Mariana.

Esta introdução toda tem um objectivo, juro-vos (sim, foi só a introdução que muito provavelmente será maior que o resto desta entrada)... falo muito, eu sei.

Apesar das entradas anteriores não terem uma deliciosa e delicada camada superficial de chocolate, nem recheio de doce de ovos (ou lá o que quer que seja com que se recheiam os mil-folhas) a minha boca de amargo nada tem!

Já não são os doces que me adoçam a boca, ou pelo menos não são os principais responsáveis! A minha vida madrasta, de que me queixei uma ou duas entradas antes, encarregou-se de me rodear pessoas deliciosas. Talvez por estar consciente da sua clara negligência e do abandono a que me votou, lavada por sentimentos de remorsos por me ter tornado tão antipático e amargo!

Era esta a conclusão a que queria chegar hoje. E, verdade seja dita (aproveito para citar mais uma vez a minha querida avó, agora que se aproxima a dolorosa data) "não há fome que não dê em fartura", é que hoje já escrevi por todos os meses que, também eu negligente, votei este blogue ao abandono e à amargura de que padecem os "deslargados" da vida.

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