É um dom, cada um tem o seu e o meu é este. A maravilhosa arte de colocar em espera, para mais logo, em ad eternum as coisas que podia fazer já.
Mas também, hoje é dia 29.02! Só acontece de quatro em quatro anos. Acho que deveria ser feriado.
«A tarde chegava. Volta o ciclope com os seus rebanhos. Abre e fecha a porta formada com o penedo. Trata dos arranjos da ceia, e mais dois companheiros, dois amigos, vejo sumir nas goelas do gigante. Quando o julguei satisfeito, aproximei-me e, pegando no odre de vinho, disse-lhe:- «Ciclope, bebe este vinho, que já comeste carne humana demais. Trazia-o para outro fim, bebe-o tu, que te há de saber bem, e vai pensando no mal que fazes a esta ilha, onde certamente nenhum homem se atreverá a vir sabendo a desumanidade da tua conduta...«Nem respondeu. Emborcou a taça a transbordar de vinho que eu lhe apresentava. Pediu mais. Bebeu segundo copo.«Falou-me então quase afectuosamente, elogiou o vinho, perguntou o meu nome, e prometeu dar-me um presente, como mandam e exigem as boas tradições da hospitalidade. Ofereci-lhe outra dose de vinho. Quando, meio cambaleante, me abraça quase, disse-lhe com extrema doçura:- «Ciclope, perguntas-me o meu nome. É muito conhecido. Mas já que o ignoras, vou-to ensinar, e trás depois de me entregar o presente prometido. Chamo-me NINGUÉM; meu pai e minha mãe chamavam-me assim, e todos os meus companheiros me chamam NINGUÉM.»- «Ah! sim, respondeu o ciclope. Pois já que te chamam NINGUÉM, NINGUÉM será o último de vocês todos que eu devorarei. É esse o meu presente!»«Ao acabar de dizer estas palavras, tombou para o lado, a cabeça dobrada sobre o ombro, ébrio de todo. Um sono profundo o toma, e ressona estrondosamente. Não perco um minuto: - vou buscar a estaca preparada, aqueço-a na cinza ardente, e estimulo a coragem dos meus companheiros. Juntamos as nossas forças, e no olho cerrado do ciclope enterramos o madeiro pontiagudo. Faço andar à roda, como penetrante verruma. E, antes mesmo que o ciclope acordasse, já o tínhamos cegado.«Mas desperta por fim, e começa a bramir raivosamente, torcendo-se de dores. Afastámo-nos para longe, não fosse ele deitar-nos a mão! O monstro gritava por socorro, chamava aflitivamente ou outros ciclopes. Vêm todos, acodem todos, e do lado de fora do antro, fechado ainda, interrogam-no:- «Que te aconteceu, Polifemo? Porque nos acordas no meio da noite? Quem te faz mal? Alguém atenta contra a tua vida?»«O terrível Polifemo responde lá de dentro: - "Ai! meus amigos, é NINGUÉM que me mata, é NINGUÉM!" - «Então, dizem eles, se ninguém te faz mal, de que te queixas? O teu mal não tem remédio, e não lhe sabemos a causa. Tem paciência e sofre com resignação...»«E voltaram para as suas cavernas, enquanto eu ria ao pensar na bela ideia que tivera, baptizando-me com o nome de NINGUÉM...« Furioso, Polifemo arrastou-se até à entrada da caverna, empurrou o pedregulho que a tapava, e sentou-se no limiar, abrindo os braços. Imaginava ele que eu era bastante imprudente para fugir logo. Não, não era ocasião para tentar o destino! Por isso, inventei outro estratagema, que nos salvou.«Tinha o ciclope, nos seus grandes rebanhos, bodes de forte corpulência. Escolhi os mais gordos, cuidadosamente, e atei-os três a três. Os do meio levavam cada um, agarrado à espessa e comprida lã da barriga, um dos meus camaradas. O bode mais gordo reservei-o para mim. Segurei-me também à sua lã, na mesma posição, e enchi-me de coragem. Mas ficámos quietos até ao amanhecer... Rompeu o dia, e o ciclope chamou o rebanho para o fazer sair. Os animais passavam ao alcance das suas mãos. Apalpava-os no dorso, acarinhava-os, e, por fim, deixava-os sair. Não desconfiou da nossa manha! Corriam os bodes, e lá iam com eles os prisioneiros de Polifemo! O último a sair foi o meu. Polifemo, que o preferia a todos, acariciou-o longamente e queixou-se-lhe da minha vingança:- « Ah! soubesses tu, exclamava, onde pára o tal patife chamado NINGUÉM e decerto mo dirias. Se lhe deito a mão, esborracho-o e engulo-o num abrir e fechar de olhos. Ao menos, castigaria a infâmia que ele praticou, cegando-me e zombando da minha credulidade.»(...)E dentro em breve, sem que não tivéssemos uma última vez amaldiçoado o ciclope, que lá no alto ainda se lamentava furioso, gritando: "NINGUÉM! NINGUÉM!", o nosso barco sulcava o mar que gemia sob o compasso lento dos remos...
AVENTURAS DE ULISSES
HERÓI DA GRÉCIA ANTIGA
1
TELÉMACO E OS PRETENDENTES
Os Gregos eram ricos e gostavam de ser ricos. Mais estimavam, porém, a beleza. E por isso Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta, que era a mulher mais linda da Grécia, e cuja formosura deslumbrava o Mundo inteiro, reguardavam-na como tesouro sem par. Assim, ficaram indignados e furiosos no dia em que os Troianos, - povo do outro lado do mar que banha as costas ocidentais da Grécia - ciosos de tal fortuna, roubaram Helena e. com ela, ouro e prata aos montões. Logo resolveram os Gregos reconquistar o que lhes pertencia, tanto mais que os seus reis e chefes tinham jurado ao pai de Helena nunca a deixarem sair de junto do marido, nem da terra natal.
Preparam os barcos, armaram soldados, e navegaram em demanda de Tróia. Ali chegados, puseram cerco à cidade.
Ulisses, rei de Ítaca, acompanhava-os.
Ítaca é uma ilha do Mar Jónico, cujo povo amava e prezava o seu rei. Não era Ulisses muito amigo de batalhar. Diz-se que se fingira louco para não pegar em armas, e que, na hora em que o chamaram para a guerra, como quem não entende o que lhe pedem, foi lavrar um campo das suas herdades com a charrua afiada. Mas os outros gregos puseram Telémaco, filho de Ulisses e ainda então pequenino, diante da charrua. Ulisses, com receio de feri-lo não se atreveu a continuar. E os companheiros disseram logo:- Não é doido quem sabe poupar a vida aos filhos. E obrigaram-no a partir...
A Imperfeição dos Nossos Sentidos"Se os nossos sentidos fossem perfeitos, não precisávamos de inteligência; nem as ideias abstractas de nada nos serviriam. A imperfeição dos nossos sentidos faz com que não concordemos em absoluto sobre um objecto ou um facto do exterior. Nas ideias abstractas concordamos em absoluto. Dois homens não vêem uma mesa da mesma maneira; mas ambos entendem a palavra «mesa» da mesma maneira. Só querendo visualizar uma coisa é que divergirão; isso, porém, não é a ideia abstracta da mesa."
Fernando Pessoa, in 'Ricardo Reis - Prosa' [aqui]
Dry those eyes which are o’erflowing,
All your storms are overblowing.
While you in this isle are biding,
You shall feast without providing,
Ev’ry dainty you can think of,
Ev’ry wine that you can drink of,
Shall be yours and want shall shun you,
Ceres’ blessing too is on you.
Feet don't fail me now
Take me to the finish line
Oh, my heart it breaks every step that I take
But I'm hoping that the gates,
They'll tell me that you're mine
Walking through the city streets
Is it by mistake or desire?
I feel so alone on the fridays nights
You make me feel like home,
If I tell you you're mine
As like I told you, honey