quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vó, finalmente arrumei os papéis todos. Tinhas razão, mais de metade foi para o lixo! Deveria tê-lo feito hà mais tempo. Desculpa mas sabes como sou, muito agarrado a coisinhas e papelinhos. Mas anda que tu... Deus valha!!, a quantidade de papeis, papelinhos, recortes e fotografias que tinhas espalhadas pela casa. E facturas... Algumas ainda em escudos!

Já tirei, como me pediste, todas as minhas coisas lá de casa. Ficou a arca e umas coisas maiores mas que não cabiam no carro da minha irmã. No fim de contas, acabei por sair de casa com meia dúzia de tralhas. Mas olha, trouxe as fotografias todas. Que se lixem, não lhe iam dar valor nenhum. Deixe a Mona Lisa, nunca tive coragem de te dizer que acho aquilo piroso até dizer chega!! Mas trouxe o quadro do cavalo branco. Senti-me muito vazio quando saí da nossa casa. Faltaste-me tu para o perceber de imediato. Sempre tiveste esse dom, acho que fruto do amor incondicional que nos unia. Mesmo pelo telefone, como aconteceu recentemente: "Podes contar à avó!". Desculpa, não podia. Trouxe também o teu rolo da massa. Hei de fazer filhós com ele, muitas vezes. Mas, mais importante, trouxe-te a ti. Foste tu a coisa melhor que me ficou. Tenho uma fantástica para te contar. Envolve a "raposa" e um hipotético cofre! É muito boa.

Tenho, eu sei, o teu feitio difícil (os nados em Abril têm destas coisas). Temos os dois, fruto das vicissitudes pelas quais passámos juntos, uma barreira muito grande entre os nossos sentimentos e os dos outros. Mas fiquei também com o teu coração do tamanho do mundo (somos um burros). Com a tua capacidade de ficar sempre em segundo lugar, de abdicar da tua felicidade pela felicidade dos outros. Fico-te também eternamente agradecido pela lição de vida que tu e o avô me deram. Nem a morte vos separou e sei que choraste por ele todos os dias nestes últimos 13 anos.Vês agora a resposta à tua pergunta?

Poucas pessoas te acompanharam. Não pude deixar de me aperceber disso. Mas as pessoas que te amavam estavam lá todas. Não tenho que te dizer quem é que foi da família. Só erraste numa pessoa. Não nos motivos, claro. Sim, estou a falar daquela a quem doaste o tanque da roupa. Porra, tu não tens mesmo papas na língua. Pagava para ver a cara do juiz! As vizinhas foram e a família do avô estavam lá todos (o outro continua chanfrado dos cornos!) Foi também a família do Salvador, só a Ti Mari Cosme não te pode acompanhar, mas chorou muito.

Tem chovido muito, mas quando passamos pela última vez à porta de casa (as horas que passamos a vê-los passar, alguma vez teríamos que ser nós) não choveu. Voltou a chover quando te juntaram ao avô! Aposto que foram lágrimas de felicidade por estarem novamente juntos. Olha, só para que saibas, foste como querias ter ido. Com aquele vestido. A tia Guilhermina nisso fez questão. Vai sentir muito a tua falta ela.

De todas as coisas que me pediste nestes últimos tempos há duas (e sabes agora porquê) que nunca vou fazer. Mas, e mais uma vez te juro, a gata não se chama Mariana! Chama-se Mafalda. Tudo o resto, a mil e uma coisas que me fizeste prometer, só o deixar de fumar é que vai ser mais complicado. Mas vou tentar.

A carta já vai longa, enviarei mais.

Beijos grandes Vó.

P.S.: ainda hoje, quando cheguei da Ponte de Sor, fui feito tonto dar um toque para casa. Assim ficavas descansada que já tinha chegado.



2 comentários:

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