segunda-feira, 1 de junho de 2009

O crime do pinhal do cego


"O Sol, ainda alto, entornava rios de ouro pela estrada fora. Dourava tudo: as árvores, a capelinha da Senhora dos Remédios, as serranias de Espanha, o casario da aldeia, toda a paisagem em torno como para a passagem dum deus magnífico e triunfante. Vinham da escola os rapazitos, aos saltos, como arvéloas que nunca se cansam de saltar antes de a noite cair na macieza dos ninhos.

Um rapazito dos seus sete anos, de olhos escuros, borrões de tinta num rosto dourado de sol, cabeleira amarela em ondas largas como pétalas de girassol, deixou de repente os companheiros e meteu por um atalho, direito a uma casa que alvejava a meia encosta, à entrada dum umbroso souto, de telhado vermelho, engrinaldada de madresilvas.

Abriu a cancelinha verde, seguiu a rua empedrada coberta por uma ramada já cheiinha de uvas a amadurecer, fez uma festa ao velho Guadiana, que abanou festivamente a cauda em sua honra, e gritou para cima: «Mãe!»"

Florbela Espanca
In: O dominó preto - contos

Li isto e lembrei-me imediatamente desta foto.

Mafalda Veiga - Planície

3 comentários:

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